Um hormônio é uma substância produzida por tecidos especializados – incluindo as glândulas periféricas e estruturas neuronais, como o hipotálamo e a hipófise, mas também pelo embrião e pela placenta, na gestação –, para coordenar processos em todo o corpo humano, inclusive as funções reprodutivas de homens e mulheres.
Por isso, o papel dos hormônios na fertilidade humana não se restringe à formação e amadurecimento das células reprodutivas (óvulos e espermatozoides), sendo fundamental também para a manutenção de toda a gestação, da nidação até o parto.
O hCG (gonadotrofina coriônica humana) é o primeiro hormônio da gestação, sendo por isso alvo dos exames de gravidez, sejam eles, o teste de urina ou o exame de sangue.
No entanto, além de ser produzido naturalmente, o hCG também é essencial na metodologia de todas as técnicas de reprodução assistida – RSP (relação sexual programada), IA (inseminação artificial) e FIV (fertilização in vitro) –, como veremos no texto a seguir.
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Podemos dizer que a mulher tem chances de engravidar naturalmente quando mantém relações sexuais durante seu período fértil.
Isso porque a fecundação só pode acontecer após a ovulação, mas também porque a gestação depende de uma implantação embrionária bem-sucedida, o que só é possível quando o endométrio se encontra adequadamente preparado para auxiliar o embrião.
Em cada ciclo menstrual, o preparo endometrial é feito por dois hormônios principais: os estrogênios, como um dos resultados da interação entre os folículos ovarianos e as gonadotrofinas – FSH (hormônio folículo-estimulante) e LH (hormônio luteinizante) –, predominantes na fase folicular, e a progesterona, principal hormônio da fase lútea, que é produzida quando o LH estimula o corpo lúteo.
Do ponto de vista uterino, o papel desses hormônios é complementar, sendo que os estrogênios participam principalmente da multiplicação celular e espessamento do endométrio – que reveste a cavidade uterina –, enquanto a progesterona controla esse espessamento e mantém o endométrio estável.
Enquanto a fecundação e as primeiras etapas do desenvolvimento embrionário acontecem nas tubas uterinas, essas estruturas produzem movimentos que conduzem o embrião em formação até o interior da cavidade uterina.
Ao chegar ao útero, as células do embrião ainda permanecem unidas pela zona pelúcida herdada do óvulo, que funciona como um envoltório. Quando o embrião encontra o local mais adequado para instalar-se, a zona pelúcida se rompe e as células embrionárias infiltram-se no endométrio, realizando a nidação.
Logo após a nidação, o embrião passa a produzir hCG e este hormônio é lançado também na corrente sanguínea da mulher. Nesse momento, o hCG desempenha funções semelhantes ao papel do LH na fase lútea do ciclo menstrual, e mantém o corpo lúteo ativo, impedindo que a produção de progesterona seja interrompida.
A progesterona é um hormônio fundamental para a gestação inicial por manter o endométrio estável, permitindo que o desenvolvimento embrionário seja concluído com sucesso, assim como o desenvolvimento dos anexos embrionários – cordão umbilical, líquido amniótico e placenta.
Essa dinâmica acontece durante todo o primeiro trimestre da gravidez. Quando a formação da placenta termina, a secreção de hCG é interrompida, o corpo lúteo regride e a placenta passa a produzir progesterona até o final da gestação.
Além de seu papel essencial nas gestações naturais, o hCG também é utilizado em todas as técnicas de reprodução assistida, que contam com uma etapa inicial relativamente semelhante, que inclui a estimulação ovariana e a indução da ovulação.
A estimulação ovariana começa no primeiro dia da menstruação e início de um ciclo menstrual, com a administração de doses diárias de hormônios – que podem ser análogos do GnRH e as próprias gonadotrofinas FSH e LH –, que dura cerca de 12 a 15 dias.
Nesse período, exames sucessivos de ultrassonografia pélvica transvaginal acompanham o recrutamento, crescimento e desenvolvimento dos folículos, estimulados pela medicação.
Quando o monitoramento aponta o auge desses processos, a mulher recebe uma dose única de hCG, para disparar a ovulação e ajudar na formação do corpo lúteo e no início da produção de progesterona.
O hCG nesse momento, também é essencial para melhorar o preparo endometrial, que, como comentamos, depende também da circulação de progesterona para ser adequado.
Embora esses processos sejam semelhantes nas três técnicas de reprodução assistida, cada procedimento utiliza seu próprio protocolo para as doses dos medicamentos hormonais, atendendo às demandas específicas das etapas seguintes, em cada técnica.
Na RSP, técnica menos complexa entre as três, a estimulação ovariana e a indução da ovulação constituem praticamente todo o tratamento, e o casal é aconselhado a manter relações sexuais nas cerca de 36h após a administração do hCG, com chances maiores de engravidar.
Os protocolos de medicamentos hormonais utilizados na IA – em que amostras de sêmen são depositadas diretamente no útero, após a indução da ovulação – são semelhantes ao da RSP.
Isso acontece porque nas duas técnicas espera-se que a fecundação aconteça no interior das tubas uterinas e uma ovulação múltipla poderia resultar em gravidez gemelar – que é uma gestação de risco.
Na FIV – em que a fecundação é reproduzida em laboratório e os embriões transferidos, depois de alguns dias de cultivo embrionário, diretamente para a o útero –, a estimulação ovariana usa protocolos mais robustos, com doses maiores da medicação, induzindo o amadurecimento de vários folículos ovarianos ao mesmo tempo.
Isso serve principalmente para aumentar as chances de sucesso da fecundação, já que uma maior quantidade de folículos torna mais refinada também a seleção dessas células para a fertilização.
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