A relação entre a criptorquidia e a infertilidade masculina é amplamente estudada pela medicina, já que a condição pode afetar o funcionamento dos testículos.
Os testículos são as glândulas sexuais masculinas, que se formam ainda no período embrionário: inicialmente na região abdominal e posteriormente descendo para a bolsa escrotal – que é fundamental para o bom desempenho das funções testiculares.
A espermatogênese – processo de formação dos espermatozoides – acontece principalmente nos testículos e depende de uma série de eventos hormonais e físicos para se desenrolar normalmente.
Os problemas associados à criptorquidia podem alterar o ambiente em que os testículos se encontram e com isso prejudicar a formação dos espermatozoides e do sêmen.
Nos acompanhe na leitura do texto a seguir e entenda melhor a relação entre a criptorquidia e a infertilidade masculina.
Os espermatozoides são as células reprodutivas dos homens, que participam diretamente da fecundação – quando a união dos materiais genéticos de um óvulo e um espermatozoide formam o DNA do zigoto e futuro embrião.
A produção dos espermatozoides acontece com o desenvolvimento de células precursoras, localizadas nas paredes dos túbulos seminíferos, sob a ação de alguns hormônios, cuja produção é resultado da interação entre a hipófise e os testículos.
Além da indução hormonal, a espermatogênese também depende da estabilidade de alguns fatores ambientais, como a temperatura e a pressão. A localização dos testículos no interior da bolsa escrotal é fundamental para essas condições, já que a estrutura proporciona principalmente um ambiente com temperatura menor que a média corporal.
Os espermatozoides se desenvolvem nos testículos e seguem para os epidídimos, onde a cauda cresce e adquire a capacidade de mover-se. Os ductos deferentes recebem os espermatozoides dos epidídimos e promovem a formação do sêmen, unindo essas células às secreções das glândulas anexas, como a próstata.
Ao ser ejaculado, o sêmen pode conduzir os espermatozoides ao longo do trajeto até as tubas, onde a fecundação acontece, protegendo essas células dos ambientes vaginal e uterino.
O desenvolvimento inicial dos testículos, que ocorre por volta da 8ª semana de gestação, se dá ainda na cavidade abdominal. No final da gestação, os testículos se deslocam do abdômen para a bolsa escrotal, já desenvolvida, e aí permanecem até o final da vida do homem.
Em algumas situações, no entanto, ao nascer o bebê ainda possui os testículos em seu local inicial, no abdômen – o que chamamos criptorquidia. Essa condição é mais comum em nascimentos prematuros, já que a descida dos testículos só acontece no final da gestação, mas também pode ser predisposta geneticamente.
É comum que os testículos desçam naturalmente ao longo do primeiro ano de vida da criança e quando isso não acontece a criptorquidia deve ser investigada, já que a condição pode provocar infertilidade e favorecer outros eventos traumáticos, como a torção testicular e hérnias.
A definição de infertilidade conjugal é dada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a impossibilidade de um casal em idade reprodutiva ter filhos naturalmente, mesmo após 12 meses de tentativas. Por ser um diagnóstico conjugal, a infertilidade pode estar associada a problemas masculinos e femininos, associados ou isolados.
A infertilidade masculina, responsável por cerca de 30% dos casos de infertilidade conjugal, pode ser uma consequência da presença de obstruções no trajeto do sêmen e também de problemas na formação dos espermatozoides, nos testículos.
Uma das principais funções da bolsa escrotal, onde os testículos devem estar normalmente, é manter algumas condições especiais, como a temperatura abaixo da média corporal, que são essenciais para que a espermatogênese aconteça adequadamente.
Quando os testículos permanecem na cavidade abdominal, em que a temperatura é igual a média corporal, a espermatogênese e a participação dos espermatozoides na formação do sêmen, podem ser prejudicados.
O resultado é que a criptorquidia pode favorecer alterações espermáticas e seminais associadas à infertilidade, como as listadas a seguir:
A criptorquidia também favorece a ocorrência de outros quadros que podem provocar infertilidade, como torção testicular e compressão testicular, que oferecem riscos de infertilidade permanente.
Por ser uma condição que pode ser percebida na primeira infância, a criptorquidia deve ser acompanhada durante o primeiro ano de vida do bebê, quando os testículos podem descer para a bolsa escrotal naturalmente.
Se isso não acontece, a única forma de solucionar o problema é com a cirurgia de correção, realizada por videolaparoscopia e que traz os testículos para a bolsa escrotal. A cirurgia é feita ainda na infância, de preferência até os 18 meses de vida.
Nos casos em que o tratamento cirúrgico para criptorquidia não é realizado adequadamente, o homem pode desenvolver alterações espermáticas que comprometem a fertilidade. Nestes casos, somente a reprodução assistida pode oferecer tratamento para a infertilidade.
A FIV (fertilização in vitro) é a técnica mais indicada para problemas mais severos associados às alterações espermáticas, como pode ser o caso dos tratamentos para infertilidade associada à criptorquidia.
Na FIV é possível obter espermatozoides ainda não totalmente desenvolvidos por recuperação espermática, em que se realiza uma biópsia do tecido testicular em busca dessas células. Após a coleta, esse material é colocado em um meio de cultura que auxilia o desenvolvimento e sobrevivência desses espermatozoides até a fecundação.
A fecundação na FIV pode ser feita por ICSI (injeção intracitoplasmática de espermatozoide), apropriada para situações em que se dispõe de poucas células reprodutivas masculinas. Os embriões são então cultivados em laboratório e transferidos diretamente para o útero.
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