As pessoas em geral associam a fertilidade de homens e mulheres exclusivamente ao bom funcionamento do aparelho reprodutivo, mas é importante lembrar que também o sistema nervoso e o sistema endócrino participam da regulação das funções reprodutivas – e de diversas outras, no corpo todo.
Na realidade, o funcionamento desses sistemas é todo interligado, fazendo inclusive que algumas estruturas façam parte de mais de um sistema ao mesmo tempo.
Um bom exemplo desse mecanismo são os ovários e testículos, que além de armazenarem as células reprodutivas de homens e mulheres, como parte integrante do próprio aparelho reprodutivo, também produzem hormônios e regulam algumas atividades metabólicas, por serem as glândulas reprodutivas – ou seja, parte do sistema endócrino.
Outro exemplo importante inclui a hipófise e o hipotálamo, que são consideradas glândulas mestras por controlar o funcionamento do sistema endócrino periférico, mas também parte do sistema nervoso central, por sua localização e origem embrionária.
A relação entre a hipófise e a fertilidade – assunto deste texto – é direta: sem a hipófise não há fertilidade.
Entenda melhor como e por que isso acontece continuando conosco na leitura deste texto.
A hipófise é uma estrutura localizada no sistema nervoso central, que se comunica com o hipotálamo e com as glândulas periféricas do sistema endócrino. Anatomicamente, a hipófise é dividida em duas partes principais, mas que exercem diferentes funções e têm origens embrionárias diversas:
Outra diferença entre as duas partes da hipófise é a forma como esta estrutura se comunica com o hipotálamo: enquanto a neuro-hipófise armazena hormônios vindos do hipotálamo via neurônios e os libera na corrente sanguínea, a adeno-hipófise produz hormônios próprios, cuja secreção é estimulada e inibida por hormônios hipotalâmicos, que, ainda, chegam pela circulação cerebral – e não via neurônios.
A função reprodutiva conta com a participação das duas partes da hipófise, mas principalmente da adeno-hipófise, que integra o que chamamos eixo HHG – ou eixo hipotálamo-hipófise-gonadal – sendo que os ovários são as gônadas femininas e as masculinas são os testículos.
O HHG controla a maior parte das funções reprodutivas em homens e mulheres, mas seu funcionamento é ligeiramente diferente, já que testículos e ovários apresentam funcionamentos diferentes.
De qualquer forma, tanto no corpo masculino como no feminino, a principal forma de interação entre a adeno-hipófise e o hipotálamo é mediada pelo GnRH (hormônio liberador de gonadotrofinas).
Este hormônio induz a adeno-hipófise a liberar dois hormônios, produzidos por ela, na corrente sanguínea: as gonadotrofinas FSH (hormônio folículo-estimulante) e LH (hormônio luteinizante), que interagem com os testículos e com os ovários.
A interação de cada gonadotrofina da hipófise com as duas gônadas humanas, porém, acontece de forma profundamente particular.
A fertilidade de homens e mulheres está associada principalmente à capacidade de produzir células reprodutivas – espermatozoides e óvulos – saudáveis, que possam ser disponibilizadas para a fecundação. Além disso, é importante que o útero em que a gestação vai acontecer também esteja íntegro e receptivo ao embrião, permitindo uma gestação segura.
A hipófise é central para os dois aspectos.
No corpo da mulher, o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários – como mamas, pelos pubianos e axilares e as mudanças no formato do corpo – é mediado por mudanças na atividade da hipófise e aumento na produção das gonadotrofinas, na puberdade.
O mesmo acontece no corpo do homem, que também desenvolve, na puberdade, seus caracteres sexuais secundários – como aumento do pênis e testículos, aparecimento de pelos corporais, barba e mudanças no formato do corpo – em resposta às mudanças na produção das gonadotrofinas, pela hipófise.
Essas mudanças também envolvem o amadurecimento dos ovários, com o início dos ciclos menstruais e a possibilidade de engravidar, e dos testículos, com a produção de sêmen e espermatozoides – ou seja, o início da vida fértil de homens e mulheres depende da hipófise.
Também ao longo da vida fértil de homens e mulheres, a dinâmica dos hormônios sexuais, que é mediada pela hipófise, em parceria com o hipotálamo, mantém a produção e amadurecimento das células reprodutivas e as condições fundamentais para que a gestação aconteça.
A SOP (síndrome dos ovários policísticos) é uma das principais alterações do eixo HHG e está associada à infertilidade, nas mulheres. Acredita-se que o desequilíbrio na produção de testosterona, principal consequência da SOP, seja derivado de alterações na proporção de FSH e LH produzidos na hipófise.
Normalmente, as gonadotrofinas são produzidas em uma proporção semelhante, mas a hipótese mais aceita para o mecanismo da SOP mostra a produção de LH aumentada e da de FSH diminuída, em relação aos parâmetros normais.
Uma das funções do LH nos ovários é estimular as células dos folículos a produzir testosterona, que é convertida em estrogênio pelo FSH. No desequilíbrio da SOP, a produção de testosterona aumenta porque o LH aumenta, enquanto a redução do FSH diminui a taxa de conversão da testosterona em estrogênio, aumentando a concentração da testosterona.
Essa dinâmica impede o pico hormonal necessário para a ovulação: o folículo dominante não se rompe, o óvulo maduro não é liberado em direção às tubas, permanecendo nos ovários e formando cistos. Ou seja, a mulher não consegue engravidar.
Os desequilíbrios hormonais – que podem ser abordados por praticamente todas as técnicas de reprodução assistida – estão entre as principais causas de infertilidade, principalmente nas mulheres.
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