O avanço dos métodos de congelamento proporcionou a solução de diferentes problemas nos tratamentos por FIV (fertilização in vitro) e levou ao desenvolvimento de uma técnica complementar ao procedimento: o congelamento de gametas e embriões.
Com o efeito prejudicial às células praticamente extinto, gametas (óvulos e espermatozoides) podem ser criopreservados por mais tempo ou utilizados nos ciclos seguintes.
A recomendação atual, por exemplo, é a de que todos os embriões sejam criopreservados – técnica que recebeu o nome em inglês freeze-all –, para serem transferidos apenas no próximo ciclo de tratamento.
Assim, a transferência de embriões congelados tornou-se uma das principais estratégias nos tratamentos por FIV, proporcionando vantagens, como a redução na falha de implantação embrionária, fator determinante para a gravidez ser bem-sucedida.
Este texto explica a transferência de embriões congelados, destacando o funcionamento da técnica nos tratamentos por FIV e as vantagens que ela proporciona.
Nos tratamentos por FIV, a primeira etapa é a estimulação ovariana. O procedimento utiliza medicamentos hormonais semelhantes aos produzidos pelo organismo, com o propósito de estimular o desenvolvimento e maturação de mais folículos. O objetivo é obter pelo menos 15 óvulos maduros.
O desenvolvimento dos folículos é acompanhado por ultrassonografia transvaginal. Quando eles atingem o tamanho ideal, é feita a indução da ovulação, também por medicamentos hormonais. A ovulação ocorre em cerca de 36 horas, portanto um pouco antes os folículos são coletados por punção folicular para a coleta dos óvulos.
Simultaneamente, os melhores espermatozoides são selecionados por técnicas de preparo seminal. Óvulos e espermatozoides são então fecundados em laboratório. Atualmente, o método mais utilizado para a fecundação é a FIV com injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI).
Os melhores espermatozoides selecionados são injetados nos óvulos: um espermatozoide para cada óvulo com o auxílio de microscópio e agulha com uma espessura menor que a do gameta feminino.
Os meios de cultura atualmente também possibilitam o cultivo dos embriões por mais tempo em laboratório, cerca de seis dias. No 5º dia, o embrião atinge a fase conhecida como blastocisto, e é nessa fase que é realizado o congelamento do embrião.
Antes de serem congelados, as células do embrião podem ser analisadas pelo teste genético pré-implantacional, técnica também complementar à FIV que possibilita a detecção de distúrbios genéticos e anormalidades cromossômicas, como a aneuploidia, em que há presença ou ausência de mais ou menos cromossomos no cariótipo, considerada uma das principais causas de falhas na implantação do embrião.
Os embriões congelados são, então, transferidos apenas no próximo ciclo de tratamento.
Entre as vantagens proporcionados pela transferência de embriões congelados está a diminuição dos efeitos provocados na receptividade endometrial pelos medicamentos hormonais utilizados na estimulação ovarina. A receptividade do endométrio, que vai abrigar e nutrir o embrião até que a placenta seja formada, é um dos parâmetros para que a implantação seja bem-sucedida.
O congelamento de embriões também tornou possível a transferência de um único embrião, minimizando, nesse caso, a incidência de gestação gemelar, potencialmente perigosa para a mãe e para o feto, com complicações como pré-eclâmpsia ou aumento da pressão arterial da gestante, aborto espontâneo e recém-nascidos com baixo peso.
No ciclo seguinte de tratamento, antes de os embriões serem transferidos, a mulher pode ser submetida ao teste ERA, teste que analisa centenas de genes envolvidos no ciclo endometrial, permitindo a identificar com precisão do momento mais receptivo para a transferência do embrião.
Posteriormente, os embriões são descongelados e transferidos no melhor período indicado pelo ERA.
O procedimento para a transferência de embriões congelados é semelhante aos dos transferidos a fresco e é realizado na própria clínica de reprodução assistida, sem necessidade de anestesia. Com a mulher em posição ginecológica, os embriões são colocados em um cateter e depositados no útero com o auxílio da ultrassonografia transvaginal.
Após 15 dias, já é possível confirmar a gravidez por testes de urina facilmente encontrados em farmácias ou por exames de sangue. Diferentes estudos indicam que as taxas de gravidez são mais altas na transferência de embriões, quando comparadas às de embriões frescos.
Porém, no Brasil, tanto o processo de congelamento de embriões como o de transferência devem observar as regras determinadas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).
De acordo com o CFM, por exemplo, os embriões criopreservados que não forem utilizados devem permanecer congelados por pelo menos três anos para o uso em uma gravidez futura. Quando isso não ocorre, eles podem ser descartados ou doados para pessoas com problemas de fertilidade e para o estudo de células-tronco.
A doação de gametas e embriões também é uma técnica complementar à FIV, importante para quem não conseguiu engravidar com gametas próprios e para casais homoafetivos, que anteriormente tinham apenas como opção a adoção.
A doação, no entanto, não pode ter caráter lucrativo ou comercial, assim como doadores não podem conhecer a identidade dos receptores e vice-versa.
As regras nacionais determinam, ainda, o número máximo de embriões a serem transferidos de acordo com a idade da mulher: até 35 anos, 1 ou 2 embriões, entre 36 e 39 anos até 3 embriões e mulheres com 40 anos ou mais, até 4 embriões.
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