A FIV (fertilização in vitro), além de ser considerada a principal técnica de reprodução assistida para o tratamento de infertilidade, possibilita a preservação da capacidade reprodutiva de homens e mulheres que sofrem com câncer. O procedimento é conhecido como preservação oncológica da fertilidade.
Tratamentos para neoplasias, como quimioterapia ou radioterapia, tendem a causar alterações na fertilidade. Os efeitos podem ser temporários ou permanentes, de acordo com cada caso.
A preservação oncológica tornou-se uma opção importante para que essas pessoas pudessem garantir a concepção de filhos biológicos no futuro. O processo é realizado pelo congelamento das células sexuais (óvulos e espermatozoides), assim como de embriões formados ou amostras de tecidos ovarianos e testiculares.
Este texto explica o funcionamento da preservação oncológica nos tratamentos por FIV.
Entre os impactos que os tratamentos para o câncer podem causar na fertilidade masculina está o comprometimento da produção ou qualidade dos espermatozoides, além de alterações no DNA dos gametas masculinos. Por outro lado, de acordo com o tipo de neoplasia e estágio de desenvolvimento, pode haver ainda a necessidade de remoção de um ou de ambos os testículos.
Alterações nos níveis hormonais são a principal consequência dos tratamentos para as mulheres. Da mesma forma que afetam a qualidade dos óvulos, podem resultar em condições como a falência ovariana prematura (FOP), em que os sintomas da menopausa manifestam antes dos 40 anos, ou causar danos permanentes na função ovariana. Em alguns casos, de acordo com o tipo de tratamento, também pode ser necessária a remoção de ovários ou útero.
O congelamento deve ser realizado antes de iniciar o tratamento para o câncer. Para isso, homens e mulheres devem ser submetidos ao tratamento por FIV. A criopreservação de gametas e embriões é uma técnica complementar ao procedimento. Podem ser congelados óvulos, espermatozoides, tecidos ou embriões formados, de acordo com cada caso.
Atualmente, a técnica mais utilizada é a vitrificação. O método é ultrarrápido e provoca danos praticamente inexpressivos nas células criopreservadas, registrando taxas bastante altas de sobrevida.
Além disso, as células que serão congeladas são imersas em soluções crioprotetoras para proteger contra possíveis danos, permitindo o armazenamento por tempo indeterminado.
A fertilidade feminina é preservada a partir do congelamento dos óvulos e de fragmentos do tecido ovariano. A opção é importante para meninas na pré-puberdade que ainda não ovulam.
O procedimento inicia com a estimulação ovariana, realizada com a utilização de medicamentos hormonais, que estimulam o desenvolvimento de mais folículos. Em um ciclo natural, por exemplo, vários folículos crescem, porém apenas um se desenvolve e se rompe para liberar o óvulo. Com a estimulação ovariana, o objetivo é obter um maior número possível de óvulos para serem fecundados.
Para acompanhar o desenvolvimento dos folículos, são realizados periodicamente exames de ultrassonografia transvaginal. Quando eles atingem o tamanho adequado, é feita a indução da maturação final e ovulação, também por medicamentos hormonais.
A ovulação ocorre em cerca de 36 horas, portanto os folículos são coletados por punção folicular antes desse tempo. Em laboratório, são coletados os óvulos maduros dos folículos. Os melhores óvulos são então selecionados para o congelamento.
Nos casos em que a doença afeta meninas na pré-puberdade, vários fragmentos do tecido ovariano são coletados por videolaparoscopia, uma técnica minimamente invasiva. Após a coleta, os tecidos são congelados.
A criopreservação dos tecidos também é indicada para pacientes em estágios mais avançados da doença, que não podem ser submetidas à estimulação ovariana. Nesse caso, entretanto, a paciente deve ter uma boa reserva ovariana. Por isso é indicada para mulheres com até 40 anos.
Para preservar a fertilidade masculina, por outro lado, o sêmen é coletado por masturbação. Os gametas com melhor morfologia (forma) e motilidade (movimento) são selecionados por técnicas de preparo seminal.
Se eles não estiverem presentes no sêmen ejaculado, condição conhecida como azoospermia, podem ainda ser coletados do epidídimo ou dos testículos. Existem procedimentos de punção ou cirúrgicos que permitem essa intervenção.
Após a seleção, os melhores espermatozoides são congelados. Se houver a presença de espermatozoides no tecido testicular, ele também pode ser congelado.
Depois de finalizado o tratamento para o câncer e quando o homem ou a mulher quiserem ter filhos, os gametas são descongelados e fecundados em laboratório por FIV com injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI).
Na FIV com ICSI, um único espermatozoide é injetado em cada óvulo com a utilização de um micromanipulador de gametas, garantindo, dessa forma, maiores chances para que a fecundação ocorra. Esse processo se repete para cada óvulo disponível para fecundação.
Já o tecido ovariano congelado deve ser descongelado e reimplantado para proporcionar uma gravidez no futuro.
Ainda que útero e ovários tenham sido removidos, há ainda a possibilidade de gravidez com a utilização do útero de substituição, outra técnica complementar à FIV.
O congelamento de embriões também é uma opção importante para a preservação da fertilidade feminina e masculina. Ele pode ser gerado posteriormente pela mãe ou pela mulher que vai ceder o útero.
Segundo as regras estabelecidas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), órgão que regulamenta a reprodução assistida no Brasil, o útero pode ser cedido por familiares dos pacientes até 4º grau.
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