Hidrossalpinge é o acúmulo de líquido no interior das tubas uterinas. Um evento que é parte do processo inflamatório disparado, na maior parte das vezes, por um quadro prévio de salpingite, como chamamos as infecções tubárias, independente dos agentes microbianos envolvidos.
A hidrossalpinge também pode ser formada nos casos de endometriose tubária ou em decorrência de outras inflamações, como a apendicite, e procedimentos cirúrgicos malsucedidos.
Como acontece em todos os processos inflamatórios o sistema imunológico é acionado e envia ao local da lesão células de defesa para combater os agentes agressores e restaurar os tecidos lesionados.
Para acelerar esse processo a vascularização ao redor das lesões também aumenta, assim como a permeabilidade dos vasos sanguíneos locais e a temperatura.
O aumento da permeabilidade faz com que a parte líquida do sangue extravase e ocupe os espaços intercelulares, provocando o acúmulo de líquido nas tubas, gerando edema (inchaço). Ao mesmo tempo, a própria ação microbiológica sobre o tecido que reveste o interior das tubas uterinas leva ao aumento da produção de muco, o que contribui para a obstrução dessas estruturas.
A principal função das tubas uterinas é conectar os ovários ao útero e permitir o trânsito de gametas em seu interior, o que é fundamental para que a fecundação aconteça. Por isso, a obstrução é um problema grave, que pode provocar infertilidade feminina e aumentar os riscos para gestação ectópica.
A contaminação por ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) está entre as causas mais frequentes da salpingite com formação de hidrossalpinge e, por isso, quando sintomática, os sinais da hidrossalpinge podem se confundir com aqueles manifestados primariamente pelas ISTs.
O texto a seguir mostra com mais detalhes os sintomas da hidrossalpinge, incentivando a busca por atendimento médico caso sejam percebidos pela mulher.
Quando a hidrossalpinge é uma consequência dos quadros gerais de infecção tubária, os sintomas manifestados pela doença podem inicialmente ser semelhantes àqueles encontrados na maior parte das ISTs: corrimento de cor e odor alterados, dor durante as relações sexuais e sangramentos fora do período menstrual.
Entre as principais bactérias envolvidas nos casos de hidrossalpinge estão a Chlamydia trachomatis e a Neisseria gonorrhoeae, que causam clamídia e gonorreia respectivamente, e na maior parte dos casos não apresentam sintomas iniciais.
Por isso, muitas vezes a hidrossalpinge é assintomática e a mulher só toma conhecimento de sua condição nos exames ginecológicos de rotina, ou quando dá início às tentativas para engravidar e encontra dificuldades nesse processo.
A hidrossalpinge também pode ser provocada pelo aparecimento de focos endometrióticos nas tubas uterinas.
A endometriose é uma doença estrogênio-dependente, que leva ao aparecimento de focos de tecido endometrial ectópico – fora da cavidade uterina – cujo crescimento e desenvolvimento é estimulado pelos estrogênios naturais do corpo.
A ação estrogênica induz à multiplicação celular e, quando atua nos implantes endometrióticos, dispara processos inflamatórios locais. Assim como a inflamação resultante da infecção por ISTs, esse processo acarreta no aumento da vascularização e surgimento do edema, podendo formar um quadro de hidrossalpinge.
Como as tubas uterinas estão localizadas na cavidade pélvica, seu contato com o peritônio – tecido de revestimento da cavidade pélvica e abdominal – é direto, por isso as inflamações ou infecções nas estruturas aí localizadas também podem atingir as tubas uterinas e provocar hidrossalpinge, como a apendicite, que demanda cirurgia imediata.
Uma das principais consequências da hidrossalpinge, porém, é a infertilidade, que pode ser permanente ou temporária dependendo da extensão das lesões e do tempo entre o surgimento da hidrossalpinge e o tratamento.
As tubas uterinas estão localizadas na cavidade pélvica, conectadas ao útero e aos ovários. Após a ovulação o óvulo é liberado pelo folículo ovariano em direção às tubas uterinas, onde permanece disponível para a fecundação por cerca de 36h.
O próprio processo de fecundação acontece no interior das tubas uterinas, que recebe os espermatozoides e mantém as condições ambientais ideais para que a união dos gametas aconteça.
Além disso, após a formação inicial do embrião, são os movimentos peristálticos das tubas uterinas que auxiliam o concepto a chegar ao útero, buscando o melhor lugar para realizar a implantação embrionária.
Quando a mulher apresenta hidrossalpinge, o lúmen das tubas uterinas, ou seja, a passagem no interior dessas estruturas, fica obstruído tanto pelo edema, provocado pelo processo inflamatório, como pelo excesso de produção de muco, em resposta aos agentes agressores.
Além disso, a própria resposta imune às lesões pode danificar o epitélio de revestimento interno das tubas, e a presença de substâncias derivadas da ação dessas células, como as prostaglandinas, altera o ambiente tubário e danifica os gametas.
Em alguns casos, especialmente quando a obstrução não é completa, a mulher corre o risco de passar por uma gestação tubária, que acontece quando o embrião é formado nas tubas, mas não consegue seguir para o útero e realiza a implantação ali mesmo.
A gestação ectópica leva obrigatoriamente ao abortamento clínico, pode causar a perda das tubas, assim como oferece risco de sepse e até mesmo de morte da mulher, caso o atendimento médico não seja feito rapidamente.
Embora as testagens para ISTs possam ser parte do processo diagnóstico da hidrossalpinge, já que o quadro é formado inicialmente pela infecção com esses microrganismos, a identificação do edema tubário propriamente dito é feita por exames de imagem.
A histerossonografia é uma modalidade da ultrassonografia pélvica transvaginal, em que o exame é realizado após o preenchimento da cavidade uterina com soro fisiológico, muito utilizada para identificar a hidrossalpinge.
Caso a histerossonografia não seja conclusiva, a mulher pode realizar também a histerossalpingografia, um exame de raio-X pélvico, com a injeção de contraste à base de iodo, que ressalta os detalhes da cavidade uterina e também das tubas.
Com o diagnóstico em mãos é possível escolher o melhor tratamento: para os casos leves e de diagnóstico precoce, a hidrossalpinge regride com o uso de antibióticos, que interrompem o processo infeccioso, e anti-inflamatórios, que controlam o edema e a ação das células imunológicas.
No entanto, para os casos mais graves e quando a mulher não consegue engravidar mesmo após o tratamento medicamentoso, pode ser indicada cirurgia para eliminar o excesso de líquido das tubas.
A reprodução assistida pode auxiliar a mulher com infertilidade por hidrossalpinge, principalmente com a FIV (fertilização in vitro) cujos procedimentos independem da saúde tubária para alcançar sucesso.
Ainda assim, recomenda-se que o tratamento para as ISTs que provocaram a hidrossalpinge seja realizado antes da FIV, pois as bactérias podem se espalhar para outras estruturas como o útero, provocando endometrite e comprometendo os resultados da FIV.
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