A disseminação das ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) é uma das preocupações centrais da Medicina hoje. Entre as ISTs mais prevalentes em homens e mulheres, destacamos a infecção causada pela bactéria Chlamydia trachomatis, que pode causar, entre outros sintomas e consequências, quadros temporários e até mesmo permanente de infertilidade.
Assim como algumas outras ISTs, a clamídia muitas vezes não manifesta sintomas, o que pode resultar tanto numa demora para buscar o tratamento, agravando as possíveis consequências da infecção, além de aumentar a chance de transmissão já que o portador desconhece sua condição.
Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a cada ano surjam aproximadamente 92 milhões de novos casos de clamídia no mundo. Estudos brasileiros apontam que a incidência dessa infecção pode chegar a 31,5% da população nacional, e que a doença acomete principalmente mulheres com uma idade média de 20 anos.
Assim como qualquer outra IST, a única forma de prevenir a contaminação pela clamídia é a prática do sexo seguro, que deve ser feito sempre com uso os preservativos de barreira, popularmente chamados de camisinhas masculina e feminina.
É importante lembrar que nenhum método contraceptivo, além dos mencionados, protege contra a contaminação por qualquer tipo de IST.
Este texto tem como objetivo apresentar a clamídia, uma das ISTs mais prevalentes na população sexualmente ativa e em idade reprodutiva hoje, abordando também seus sintomas e tratamentos e como a reprodução assistida pode ajudar àqueles que desenvolveram infertilidade decorrente dessa doença.
A clamídia é uma IST causada pelo contato com a bactéria gram-negativa Chlamydia trachomatis, que pode acontecer por contato sexual (vaginal, anal e oral) e também transmitida da mãe para o bebê durante o parto.
O ciclo da Chlamydia trachomatis, como IST, acontece em duas fases. Na primeira, a contaminação acontece pelo corpúsculo elementar, que é relativamente pequeno e consiste na própria bactéria, porém em sua forma infectante.
Por ser resistente ao meio extracelular do corpo humano, os corpúsculos elementares penetram as células do trato reprodutivo de homens e mulheres – durante a relação sexual desprotegida -, formando uma espécie de bolha intracelular.
Como a bactéria não é capaz de produzir energia sozinha, esses corpúsculos multiplicam-se dentro do espaço intracelular utilizando os recursos da célula hospedeira. Esse processo dá origem aos corpúsculos reticulares, que são a forma replicativa da clamídia: metabolicamente ativa e não infectante.
Quando os corpúsculos reticulares entram em processo de replicação (multiplicação) originam novos corpúsculos elementares, que irão penetrar novas células, recomeçando o ciclo infeccioso.
Nos homens, a clamídia é responsável por grande parte dos casos de uretrite e, especialmente se não tratada a tempo, pode evoluir ir para quadros mais severos de epididimite e orquite.
Nas mulheres, que são estatisticamente mais atingidas pela clamídia, a principal complicação da infecção inclui as doenças do espectro da DIP (doença inflamatória pélvica), especialmente a infecção do colo do útero (cervicite), das tubas uterinas (salpingite) e, nos casos mais graves, a contaminação do peritônio (peritonite).
Quando a clamídia acomete bebês nascidos de mães infectadas, provocam infecções pulmonares e tracoma, que é uma espécie de conjuntivite com potencial para causar cegueira irreversível.
Aproximadamente 80% dos casos de clamídia, especialmente quando a infecção acomete mulheres, é considerada assintomática, o que dificulta em muito a busca por tratamento.
Quando presentes, os sintomas mais comuns nas mulheres são o aparecimento de um corrimento vaginal, que costuma ser amarelado, acompanhado de dor ao urinar e no baixo ventre. Além disso, em alguns casos a mulher pode apresentar dor e sangramentos espontâneos também durante as relações sexuais.
Já nos homens, a sintomatologia da infecção por clamídia comumente inclui ardência ao urinar, corrimento uretral, secreção de pus pela glande e sensação de peso e dor nos testículos.
Após o primeiro contato com a bactéria Chlamydia trachomatis, o período de incubação para os casos sintomáticos costuma ser de 7 a 21 dias. Na maioria das vezes, o exame físico não revela nenhuma outra anormalidade, a não ser o corrimento.
Uma das principais consequências da infecção por clamídia afeta a função reprodutiva de homens e mulheres. Isso porque o processo parasitário dessa bactéria faz com que as células infectadas se rompam e em seu lugar surjam aderências, semelhantes a cicatrizes, mesmo após o tratamento.
Quando essas aderências estão localizadas nas tubas uterinas ou nos epidídimos, a passagem dos gametas por essas duas estruturas fica prejudicada e, consequentemente, também a função reprodutiva de homens e mulheres.
Além de prejudicar a fecundação, a Clamídia também pode provocar abortos espontâneos e gestação ectópica, que normalmente acontece no interior das tubas uterinas.
Uma pesquisa realizada recentemente na Suécia, mostrou que aproximadamente 24% das mulheres e 20% dos homens, diagnosticados com infertilidade, apresentavam anticorpos para clamídia, mesmo sem manifestar uma infecção ativa.
As testagens para clamídia podem ser feitas preventivamente de forma regular e também podem ser comuns para homens e mulheres, mesmo assintomáticos, durante a investigação da infertilidade.
O diagnóstico da clamídia é feito pela análise laboratorial de uma amostra da secreção ou das células do colo uterino e do canal vaginal, no caso das mulheres, coletada durante o exame clínico e cultivada por esfregaço.
No caso dos homens, uma amostra da secreção expelida pela glande pode ser suficiente para confirmar o diagnóstico. Para homens e mulheres também os exames de urina podem ser bastante úteis para identificação da clamídia.
Por tratar-se de uma infecção bacteriana, o tratamento para clamídia é feito com uso de antibióticos, que incluem normalmente azitromicina, doxiciclina e miociclina, administradas em dose única ou em um tratamento continuado de aproximadamente 7 dias.
Recomenda-se que os dois membros do casal sejam tratados, inclusive de forma preventiva, mesmo nos casos em que há ausência de diagnóstico para clamídia em algum deles. Após o fim do tratamento, o casal deve ser novamente testado para garantir que a infecção foi erradicada.
A reversão da infertilidade, no entanto, pode muitas vezes não acontecer mesmo após o tratamento para infecção por clamídia, já que quando a área parasitada pela bactéria inclui as tubas uterinas e os epidídimos, a infecção pode deixar cicatrizes salientes em forma de aderências.
Nesses casos, a medicina reprodutiva oferece técnicas específicas de reprodução assistida que atendem aos casos de infertilidade causados pela obstrução do trajeto dos gametas. Entre as técnicas disponíveis, a mais recomendada é a FIV (fertilização in vitro).
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