A prevenção da transmissão de doenças genéticas, especialmente em famílias com histórico de algumas condições hereditárias, é um dos motivos pelos quais a reprodução assistida pode ser indicada.
Hoje, a reprodução assistida, especialmente a FIV (fertilização in vitro), permite realizar o sequenciamento genético dos embriões, selecionando aqueles que não apresentam genes para as condições investigadas para serem transferidos para o útero.
A indicação desses procedimentos, no entanto, não é rotineira, sendo realizada somente quando exames prévios – como o exame de cariótipo – mostram que existe realmente o risco de transmissão dessas condições hereditárias.
O exame de cariótipo também pode auxiliar no diagnóstico de algumas formas de infertilidade, normalmente de origem cromossômica, e assim ser realizado antes da indicação para reprodução assistida.
Você sabe como o exame de cariótipo pode identificar doenças hereditárias e prevenir sua transmissão no contexto da reprodução assistida? Neste texto falaremos sobre isso, aproveite!
O código genético, ou DNA, é todo o conjunto de informações para a estruturação e funcionamento do corpo, codificadas por genes alocados em cromossomos, que são organizados em pares semelhantes e contidos no núcleo de cada célula do corpo.
O conjunto de cromossomos totais de uma espécie é constante em todos os indivíduos e é chamado cientificamente de cariótipo.
No ser humano, o cariótipo é formado por 22 pares de cromossomos autossômicos e 1 par de cromossomos sexuais (XX ou XY) – com exceção das células reprodutivas (óvulos e espermatozoides), que contam somente com 1 cromossomo de cada par do cariótipo.
As células reprodutivas são resultado da divisão celular de algumas células somáticas, que separam os pares de cromossomos e formam duas células, com um cromossomo de cada par. Com os óvulos esse processo acontece antes do nascimento da mulher, enquanto com os espermatozoides isso se repete a cada ejaculação.
Por isso as células reprodutivas são as únicas que participam da fecundação, quando o cariótipo de um novo ser humano é formado pelo pareamento dos cromossomos espermáticos com seus correspondentes no DNA do óvulo.
Esse é o mecanismo pelo qual todos nós herdamos características físicas, comportamentais e doenças – tanto paternas, quanto maternas.
Na fecundação natural, o resultado genético da fecundação é altamente imprevisível, o que favorece a transmissão de doenças genéticas.
Já na reprodução assistida, alguns procedimentos, como o exame de cariótipo e o PGT (teste genético pré-implantacional), podem ajudar famílias com histórico de doenças genéticas a interromper o ciclo de transmissão.
O objetivo principal do exame de cariótipo é permitir a observação dos cromossomos em seu estado mais enovelado (que acontece em uma etapa específica do desenvolvimento celular, que chamamos metáfase), quando ficam mais visíveis.
Normalmente, o exame de cariótipo utiliza uma amostra de sangue venoso, coletado por punção (da forma tradicional) e submetido a um meio de cultura, que favorece o crescimento celular, e um corante, para visualização dos cromossomos na etapa de metáfase.
As alterações identificadas pelo exame de cariótipo normalmente estão associadas à contagem de cromossomos (monossomias e trissomias) e sua estrutura (deleções e translocações), não incluindo alterações nos genes propriamente ditos.
A reprodução assistida pode ser indicada, como comentamos, para a prevenção na transmissão de doenças genéticas, mas também para o tratamento da infertilidade conjugal que também pode ser resultado de problemas genéticos dos pais.
O aborto de repetição pode ser um quadro decorrente de alterações genéticas inclusive masculinas, que provocam o não reconhecimento do embrião pelo endométrio (falha na implantação embrionária) e sua eliminação do ambiente uterino.
Alguns casos de infertilidade masculina devem-se a problemas provocados por alterações cromossômicas que afetam a qualidade dos espermatozoides e podem ser identificadas pelo exame de cariótipo. Um exemplo é a síndrome de Klinefelter, em que há uma trissomia no par sexual (XYY).
Nas mulheres, condições como menopausa precoce – ou FOP (falência ovariana precoce) – e o subdesenvolvimento dos órgãos reprodutivos também podem ser consequência de alterações cromossômicas identificadas pelo exame de cariótipo.
Os diagnósticos genéticos identificados pelo cariótipo, antes da indicação para reprodução assistida, podem ser identificados nos embriões formados nos tratamentos com a FIV pela aplicação de uma técnica complementar chamada teste genético pré-implantacional ou PGT.
Nos tratamentos que utilizam a FIV com PGT, após a fecundação em laboratório, aguarda-se que os embriões obtidos passem pelas primeiras clivagens (divisões celulares conservativas) para que algumas células sejam coletadas.
O cariótipo do embrião pode ser observado nesse momento – prevenindo a transferência de embriões com trissomias e monossomias – e o material segue para o processo de sequenciamento genético do PGT, em que se buscam os genes das doenças hereditárias que se deseja evitar a transmissão.
Como os resultados do PGT e do cariótipo nem sempre são rápidos, normalmente os embriões são congelados após a coleta de células e transferidos somente se estiverem livres das condições estudadas no tratamento, quando o útero estiver receptivo para a nidação.
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