É comum as pessoas associarem endometriose e endométrio, principalmente pela semelhança entre os termos. A relação entre esta doença estrogênio-dependente e o tecido de revestimento da parede uterina, no entanto, é mais complexa do que parece.
A parede uterina é a estrutura principal do útero – já que este é um órgão oco – e é formada por três tipos de tecido, com papéis específicos:
Embora a endometriose mantenha alguma relação com o tipo de tecido que compõe o endométrio, o revestimento da parede uterina é um dos poucos locais em que esta doença não se instala.
Quer entender melhor porque isso acontece? Então continue conosco e aproveite a leitura do texto a seguir!
Como comentamos, o endométrio é o tecido de revestimento da cavidade uterina e que, por isso, mantém contato direto com a região “oca” do útero – por onde passam desde os espermatozoides, para a fecundação, até o embrião, para a nidação, além de ser o local onde toda a gestação se desenvolve.
A principal característica do endométrio, no entanto, deve-se às células glandulares que compõem este tecido. Essas células interagem principalmente com os estrogênios e a progesterona, fazendo com que o endométrio se transforme de diferentes maneiras, em resposta à dinâmica hormonal típica de cada fase, a cada ciclo menstrual.
A chegada do sangue menstrual marca o início da fase folicular, que termina com a ovulação. Nesse momento, o próprio sangue menstrual é resultado da descamação do endométrio, que acontece quando os níveis de estrogênio e progesterona são os menores de todo ciclo.
Nesse momento o rebaixamento desses hormônios faz com que a produção de alguns hormônios hipotalâmicos e hipofisários – como o GnRH (hormônio liberador de gonadotrofinas) e as gonadotrofinas FSH (hormônio folículo-estimulante) e LH (hormônio luteinizante) – seja retomada.
Ao longo da fase folicular, a interação entre as gonadotrofinas e as células foliculares, nos ovários, induz gradualmente a produção de estrogênios, que atuam tanto nos processos ovulatórios, como na retomada das transformações do endométrio. Assim, este tecido passa a multiplicar suas células, tornando-se gradualmente mais espesso.
Com a ovulação, as células do folículo dominante permanecem nos ovários e se transformam no corpo lúteo – que produz progesterona e marca o início da fase lútea. A progesterona, como os estrogênios, também atua principalmente no preparo do endométrio para receber um possível embrião, que tenha sido formado após a ovulação.
Contudo, diferente dos estrogênios, a progesterona diminui a taxa de multiplicação celular e torna o endométrio estável, favorecendo os processos de implantação embrionária.
Se a fecundação não acontece, o corpo lúteo regride e interrompe a produção de progesterona e estrogênios – o que culmina na descamação do endométrio e na chegada de uma nova menstruação, quando esses hormônios atingem suas concentrações mínimas, como comentamos inicialmente.
A endometriose é uma doença inflamatória e estrogênio-dependente, em que se observa o surgimento de focos de tecido semelhante ao endométrio, porém fora da cavidade uterina – mais frequentemente aderidos às demais estruturas da cavidade pélvica.
A semelhança entre a endometriose e o endométrio deve-se ao fato de que os implantes são formados por tecido endometrial e, principalmente, se comportam como ele. Contudo, como a endometriose forma focos de endométrio ectópico – ou seja, sempre fora da cavidade uterina (seu local natural de origem) – essa é a única analogia entre eles.
Na endometriose, os implantes de endométrio ectópico respondem principalmente à atividade dos estrogênios, que induzem a multiplicação celular e o aumento de tamanho dos focos endometrióticos, além de disparar um processo inflamatório local.
Os sintomas da endometriose se devem principalmente às consequências da inflamação dos focos sobre a fisiologia dos órgãos e estruturas em que os implantes estão aderidos. Os locais preferenciais para o surgimento da endometriose incluem peritônio, intestinos, bexiga, ligamentos do útero, tubas e ovários.
O conjunto de sintomas da endometriose, no entanto, varia de acordo com a localização dos implantes, em cada mulher portadora, mas geralmente incluem:
Entre estes sintomas, a infertilidade está restrita somente a algumas situações, principalmente na endometriose ovariana – que forma o endometrioma –, e quando a doença afeta as tubas uterinas.
Com a atividade dos estrogênios sobre o endometrioma, este cisto cresce e torna-se inflamado, provocando anovulação (ausência de ovulação) e danos à reserva ovariana – o que pode trazer consequências permanentes à fertilidade da mulher.
Se os implantes estão aderidos às tubas, o processo inflamatório pode tornar essas estruturas edemaciadas (inchadas), interrompendo a passagem em seu interior. Com isso, a endometriose tubária pode impedir a fecundação, já que os espermatozoides não conseguem chegar ao óvulo.
A reprodução assistida pode ser indicada para a mulher com infertilidade em função da endometriose.
Nesses casos, se a endometriose não afeta as tubas, se restringindo ao endometrioma, a mulher pode receber indicação para as técnicas de baixa complexidade – RSP (relação sexual programada) e IA (inseminação artificial) –, que utilizam a estimulação ovariana com principal forma de induzir a ovulação.
Se as tubas estão comprometidas pela endometriose, a FIV (fertilização in vitro) é a única forma de lidar com a infertilidade provocada pela doença, já que nesta técnica a fecundação é reproduzida em laboratório e os embriões são depositados no útero, já prontos para a nidação, dispensando o papel das tubas na gestação.
A endometriose é uma doença complexa. Leia mais sobre ela tocando neste link.
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