Dor ao urinar é sintoma de infertilidade feminina?

A dor é uma queixa muito frequente das mulheres nos consultórios ginecológicos, especialmente as cólicas menstruais e a queimação da uretra durante a micção. Em muitos casos, elas são fisiológicas e não indicam nenhuma doença.

Por isso, criou-se uma crença popular de que elas são “normais”, mas podem estar associadas a condições que causam complicações, como a infertilidade feminina. Por isso, a investigação de sintomas, como a dor ao urinar, é importante para a mulher.

As mulheres se habituaram à ideia de que uma dor mais leve não deve ser “nada demais”. Também podem achar que dores intensas somente precisam de avaliação quando persistem por um tempo. No entanto, elas devem ser sempre investigadas.

A conclusão de que possivelmente são fisiológicas deve ser feita por um médico após colher dados sobre a sua saúde, fazer um exame físico e interpretar exames complementares. Por que isso é necessário? Acompanhe o nosso post e entenda!

Dor ao urinar pode ser sinal de infertilidade?

A relação entre a dor ao urinar e a infertilidade feminina é uma pergunta que os médicos de reprodução assistida ouvem constantemente. Algumas mulheres conhecem alguém que tinha essas duas queixas associadas, outras leram algum relato na internet ou em alguma página da Web.

Primeiramente, precisamos distinguir que a infertilidade é por si só um quadro em que devem estar presentes alguns dos sintomas:

• Um casal ter dificuldades para engravidar após um ano de relações sexuais frequentes, – algumas referências adotam a nota de corte mínima de 6 relações sexuais ao mês sem uso de contraceptivos. Como a fertilidade se reduz bastante após os 35 anos, pode-se considerar o período de 6 meses após essa idade;
• Além disso, os abortamentos espontâneos de repetição, que impedem o casal de estabelecer sua prole, podem também ser vistos como uma forma de infertilidade.

Portanto, as outras manifestações são indiretas e podem dizer respeito à condição de base que levam à infertilidade. Nesse sentido, a dor ao urinar é, sim, um sintoma que pode estar associado a ela, pois está presente em várias afecções que resultam em um pior prognóstico reprodutivo da mulher. Por quê?

Algumas doenças podem levar simultaneamente a sintomas urinários e à infertilidade, como:

• Doença inflamatória pélvica;
• Endometriose;
• Aderências pélvicas;
• Malformações do sistema geniturinário, entre outras.

Dentre essas, a endometriose se destaca na reprodução assistida, pois muitas pacientes são encaminhadas aos nossos serviços com o diagnóstico. Da mesma forma, diversos casos de infertilidade ainda sem causa conhecida estarão relacionados com a doença após uma investigação da nossa especialidade.

Endometriose e infertilidade feminina

Uma das principais doenças relacionadas à infertilidade é a endometriose, que pode desencadear dores durante a micção. Um percentual bastante expressivo das mulheres com queixa de dificuldade de engravidar são diagnosticadas com essa condição, que pode acometer diversos locais, inclusive as vias urinárias.

Então, se você tem apresentado episódios frequentes e/ou intensos associados à infertilidade, a investigação da endometriose será essencial para definir um plano terapêutico na reprodução assistida.

Por causar uma inflamação intensa e aderências na pelve, a endometriose também pode levar a outros sintomas urinários, como:

• Incontinência urinária: dificuldade de controlar o esvaziamento da urina, podendo se manifestar como sensação frequente de urgência miccional e, que a pessoa urina antes de chegar a um banheiro e/ou o escape involuntário diante de esforço abdominopélvico leve, moderado ou intenso;
• Sangramento na urina: é mais comum nas mulheres com lesão de endometriose nos ureteres.

Tratamento da endometriose e reprodução assistida

O tratamento da endometriose pela reprodução assistida é feito de forma individualizada, casal a casal. Vários fatores são levados em consideração, como:

Idade da mulher;

• Tratamentos anteriores do casal;
• Cirurgias pélvicas feitas pela mulher, inclusive a cesariana;
• Localização, extensão, profundidade e gravidade das lesões;
• Concomitância de infertilidade masculina, entre outros.

Depois disso, será criado um plano terapêutico diante da necessidade do casal, que inclui técnicas, como:

• Relação sexual programada (RSP) associada ou não à estimulação ovariana;
• Inseminação artificial (IA);
• Fertilização in Vitro (FIV).

Elas podem ser complementadas por várias outras, a doação de gametas e embriões, a barriga solidária e a o teste genético pré-implantacional (PGT).

Por exemplo, a RSP e a IA geralmente podem ser usadas como terapia inicial em mulheres com endometriose leve e parceiros com parâmetros do sêmen normais ou levemente alterados. Já a FIV é recomendada como tratamento inicial de reprodução assistida em situações, tais quais:

• Alterações moderadas ou graves dos parâmetros seminais;
• Mulher acima de 35 anos de idade;
• Obstrução total ou significativa das tubas uterinas.

Portanto, as dores são uma forma de nosso corpo expressar que há algo errado. Apesar de o senso comum indicar o contrário, não é “normal” que a gente sinta dor de forma persistente ou tenha episódios agudos e intensos.

Sem uma avaliação do seu organismo por um profissional e exames complementares, não podemos saber se há alguma doença associada à dor ao urinar. Isso é especialmente verdade quando há manifestações, como a infertilidade feminina.

Quer saber mais sobre a endometriose, seus sintomas e sua relação com a infertilidade? Confira nosso texto!